sábado, 12 de setembro de 2009

Canção do Amor Sereno



Vem sem receio: eu te recebo

Como um dom dos deuses do deserto

Que decretaram minha trégua, e permitiram

Que o mel de teus olhos me invadisse.



Quero que o meu amor te faça livre,

Que meus dedos não te prendam

Mas contornem teu raro perfil

Como lábios tocam um anel sagrado.



Quero que o meu amor te seja enfeite

E conforto, porto de partida para a fundação

Do teu reino, em que a sombra

Seja abrigo e ilha.



Quero que o meu amor te seja leve

Como se dançasse numa praia uma menina.



Lya Luft

Meu coração...



Por que agente diz que: o meu coração..? o coração é nosso..??
...ou agente é do coração..??
Se o coração fosse nosso, nós mandariamos nele,simples assim.
Ele é uma peça fundamental no nosso corpo, e em nossas vidas, sem ele não vivemos.
Mas coração sem dor, não é coração, eu aposto que todos vocês que estão lendo esse texto, ja sentiram uma fincada pelo menos no coração, seja la pelo o que for, amor não correspondido, despedida, perda de um ente querido, essa é a verdadeira cara do coração, mas não pense que é só de dor que vive um coração, é por la que passam todas as suas alegrias tambem, Ou seja o coração é o centro de tudo, Do AMOR ao ÓDIO, tudo passa por ele, Com isso eu chego a conclusão que nós somos escravos dos nossos corações.
Mas hoje eu aprendi, que não existe somente dor fisica, existe muito tipo de dores, mas entre todas elas, a dor que mais machuca em mim, é a dor sentimental, é a dor no coração, aquela que ainda não inventaram remédio para curar, talvez essa dor não exponha nenhuma ferida, nenhum machucado, mas você sabe que ela esta ali, e cade vez doendo mais e mais, ninguém a encherga, nem ao menos você, mas você é o unico que sabe que ela esta la, martelando o seu coração, em geral colocamos uma mascara para disfarça-la, andamos com um sorriso no rosto, mas com um aperto no coração, essa dor não mata, só agoniza, e em geral agonizar é pior do que morrer.
Dor é dor, não importa qual você sinta, ela vai doer, ela ta ai pra doer, esse é o papel dela, ela vai te machucar, todas te farão sofrer, mas entre todas essas dores em fim, a dor do coração é a que mais dói em mim...

*Inteiro*




Era tanto o sentir
Que se perdiam outros afetos
A noção das horas
Não havia norte
Nem sul, nem litoral.
Já nem me sabia nascer
Morrer, nem viver...
Era tanto que se soltava
Inteiro
Num reunir de peles
Num único toque de dedos.
Tanto que em marés me perdia
Transbordava em dias...
E ver-te
Era sempre
Princípio
Meio e fim.

Sonho dos (meus) Olhos




Não medi meu querer
Com uma régua
De impossibilidades,

Não pesei meu afeto
Na balança
Das desilusões,

Meu bem querer
É como pássaro
Abrindo asas
Subindo no horizonte,

É gostar
Que deixa rastro luminoso,
É sonho dos olhos...

Não Sei...




Dei um tempo à razão e a emoção
para que ambas caminhassem
de mãos dadas
e juntas pudessem resolver
minhas pendências.
Me abstraí de dores absolutas
e perguntei qual delas prevaleceria.
Não obtive resposta.

Tornaram-se tão amigas
que não conseguem decidir
qual das duas levará
o maior quinhão do meu eu abstrato.

Não tenho pressa,
ainda não sou a tempestade anunciada,
tão pouco a brisa prometida.

Sou, e sempre serei,
a dona do meu castelo.

Prisioneira de mim mesma,
caça e caçadora,
sentença e execução.

Nunca adivinhada
no teu coração,
Sempre refletida
no baço espelho
dos teus olhos...

Bilhetinho



Ando em fases
de deixar o vento
embaraçar os meus cabelos,
embaralhar meus pensamentos...

Ando em fases
de ser uma biografia esparça,
entregue aos cuidados
desse mesmo vento que
ora me lambe com as saudades
de momentos sentidos à flor da pele,
ora me chicoteia com os arrependimentos
do que ficou pela superficie
e nunca foi aprofundado.

Ando em fases
de consentimento,
de entrega total,
de sorrir à toa,
de sonhar acordada,
de seguir sem pensar,
de amar apaixonadamente.

Ando mais dobrada
que bilhetinho de amor...

Ânsia




Meu amor tem fome e sede,
Não esqueço e te espero.

Beijar como amada
E ainda que não me conheças
Por horas a fio me habitas.

E estou eu dada...

Quero tremer, descobrir.
Caminhar, estremecer.
Te conduzir ao meu jardim.
Quero te navegar todo,
De norte a sul.

Hoje mais do que ontem,
Amanhã e sempre.

Maior



Vi em ti o sofrimento
que não era meu,
Não era a mulher
que escolheste para ser tua,
mas fui a que melhor te olhou
com olhos de ver.

Vi até o que não sabias
existir para ser visto,

Vi o amante desejoso
de se embriagar em ilusões,
o homem que não adivinhava
os silêncios que eram preservados
para manter o mundo do lado de fora
e o faz-de-conta vivido
sem os questionamentos
das pessoas normais.

Vi promessas não cumpridas;
as que me fizeram e
tão pouco as de que me pediram contas.

Maior amor não vi,
vivi...

Ausente de mim




Eu me conto
através das minhas idéias
sem seqüência lógica.

A vida segue
por alguns ângulos
coexistindo em substância,
sono sem sonhos
onde povoam os pesadelos.

Olho através
de vidros coloridos
e me vejo em preto e branco,
estranha,
ausente de mim,
longe de ti.

Sigo sem substantivos
escritos em maiúsculas,
sorrateiramente ancorada
em abismos de silêncios...

APARIÇÃO AMOROSA



Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.
Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

AS SEM-RAZÕES DO AMOR




Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

Se as penas com que Amor tão mal me trata




Se as penas com que Amor tão mal me trata
Permitirem que eu tanto viva delas,
Que veja escuro o lume das estrelas,
Em cuja vista o meu se acende e mata;

E se o tempo, que tudo desbarata
Secar as frescas rosas sem colhê-las,
Mostrando a linda cor das tranças belas
Mudada de ouro fino em bela prata;

Vereis, Senhora, então também mudado
O pensamento e aspereza vossa,
Quando não sirva já sua mudança.

Suspirareis então pelo passado,
Em tempo quando executar-se possa
Em vosso arrepender minha vingança.

Luís de Camões

Erros meus, má fortuna, amor ardente




Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões

Sempre a Razão vencida foi de Amor




Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que não perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.

Luís de Camões

Vencido está de amor




Vencido está de amor Meu pensamento
O mais que pode ser Vencida a vida,
Sujeita a vos servir e Instituída,
Oferecendo tudo A vosso intento.

Contente deste bem,

Louva o momento
Outra vez renovar Tão bem perdida;
A causa que me guia A tal ferida,
Ou hora em que se viu Seu perdimento.

Mil vezes desejando Está segura
Com essa pretensão Nesta empresa,
Tão estranha, tão doce, Honrosa e alta

Voltando só por vós Outra ventura,
Jurando não seguir Rara firmeza,
Sem ser no vosso amor Achado em falta.

Luís de Camões

Se pena por amar-vos se merece



Se pena por amar-vos se merece,
Quem dela livre está? ou quem isento?
Que alma, que razão, que entendimento
Em ver-vos se não rende e obedece?

Que mor glória na vida se oferece
Que ocupar-se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento
Em ver-vos se não sente, mas esquece.

Mas se merece pena quem amando
Contínuo vos está, se vos ofende,
O mundo matareis, que todo é vosso.

Em mim, Senhora, podeis ir começando,
Que claro se conhece e bem se entende
Amar-vos quanto devo e quanto posso.

Luís de Camões

Quem diz que Amor é falso ou enganoso



Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Luís de Camões

Eu cantarei de amor tão docemente




Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

O amor é uma companhia



O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Alberto Caeiro

O amor é o amor



O amor é o amor - e depois?

Vamos ficar os dois

a imaginar, a imaginar?…



O meu peito contra o teu peito

cortando o mar, cortando o ar.

Num leito



há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos

sem destino, sem medo, sem pudor,



e trocamos - somos um? Somos dois? -

espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?



Alexandre O’Neill

Eu escrevo sem esperança (Clarice Lispector)




"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Não entendo (Clarice Lispector)



Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.

Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais
completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura
sem ser doida.

É um desinteresse manso,
é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco. Não demais:
mas pelo menos entender que não entendo.

Se tudo existe é porque sou. (Clarice Lispector)




Se tudo existe é porque sou.
Mas por que esse mal estar?
É porque não estou vivendo do único
modo que existe para cada um
de se viver e nem sei qual é.

Desconfortável.

Não me sinto bem.

Não sei o que é que há.
Mas alguma coisa está errada e dá mal estar.
No entanto estou sendo franca
e meu jogo é limpo.

Abro o jogo.

Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza.
O que há então?
Só sei que não quero a impostura.
Recuso-me.

Eu me aprofundei mas não acredito
em mim porque meu pensamento é inventado.

O NASCIMENTO DO PRAZER

O NASCIMENTO DO PRAZER (trecho)


O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer.
A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável.
Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte.
Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida.
Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele.
Ele é nós.


Clarice Lispector







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