sexta-feira, 21 de maio de 2010


Deixa o olhar do mundo




Deixa o Olhar do Mundo (Olavo Bilac)



Deixa que o olhar do mundo enfim devasse

Teu grande amor que é teu maior segredo!

Que terias perdido, se, mais cedo,

Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos!

Mostra-me sem medo

Aos homens, afrontando-os face a face:

Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais!

Ando tão cheio

Deste amor, que minh'alma se consome

De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:

E, fatigado de calar teu nome,

Quase o revelo no final de um verso

Fernão Capelo Gaivota - Primeira Parte



Fernão Capelo Gaivota é um romance de Richard Bach, publicado em 1970.
Uma gaivota de nome Fernão decide que voar não deve ser apenas uma forma para a ave se movimentar. A história desenrola-se sobre o fascínio de Fernão pelas acrobacias que pode modificar e em como isso transtorna o grupo de gaivotas do seu clã. É uma história sobre liberdade, aprendizagem e amor.

Amigos




AMIGOS
Vinicius de Moraes


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta

necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,

eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,

enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.


E eu poderia suportar, embora não sem dor, que

tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!


Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus

amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ....

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.

Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.


Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem

que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente,construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.


Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.

Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.


E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.


Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...


Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meusamigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

(Vinícius de Moraes)