segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Velhas árvores



Velhas Árvores



Olha estas velhas árvores, mais belas


Do que as árvores novas, mais amigas:


Tanto mais belas quanto mais antigas,


Vencedoras da idade e das procelas...



O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas


Vivem, livres de fomes e fadigas;


E em seus galhos abrigam-se as cantigas


E os amores das aves tagarelas.



Não choremos, amigo, a mocidade!


Envelheçamos rindo! envelheçamos


Como as árvores fortes envelhecem:



Na glória da alegria e da bondade,


Agasalhando os pássaros nos ramos,


Dando sombra e consolo aos que padecem!


Olavo Bilac

Sonho



Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade


Solto para onde estás, e fico de ti perto!


Como, depois do sonho, é triste a realidade!


Como tudo, sem ti, fica depois deserto!




Sonho... Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.


Noite... A amplidão se estende, iluminada e calma:


De cada estrela de ouro um anjo se debruça,


E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.



Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.


Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.


E, como sobre um leito um alvo cortinado,


Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.



Porém, subitamente, um relâmpago corta


Todo o espaço... O rumor de um salmo se levanta


E, sorrindo, serena, apareces à porta,


Como numa moldura a imagem de uma Santa...

Olavo Bilac

Um beijo


Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,


ou talvez o pior...Glória e tormento,


contigo à luz subi do firmamento,


contigo fui pela infernal descida!




Morreste, e o meu desejo não te olvida:


queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,


e do teu gosto amargo me alimento,


e rolo-te na boca malferida.





Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,


batismo e extrema-unção, naquele instante


por que, feliz, eu não morri contigo?






Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,


beijo divino! e anseio delirante,


na perpétua saudade de um minuto....



Queria escrever um poema,


Que falasse de tudo.

Chamar-lhe mundo

E pintá-lo de palavras.



Comecei por uma quadra,

Mas faltaram logo as cores…

Procurei então o silêncio

E nele ouvia eco.

Sem a cor das palavras,

Nem a calma do silêncio

Escrevi um poema

Só cheio de alma.


"O nosso amor, minha amiga,
será assim como uma flor milagrosa que cresceu,
desabrochou, deu todo o seu aroma
– e, nunca cortada, nem sacudida dos ventos ou das chuvas,
nem de leve emurchecida,
fica na sua haste solitária,
encantando ainda com as suas cores
os nossos olhos quando para ela de longe se volvem,
e para sempre, através da idade,
e perfumando a nossa vida".
(Eça de Queiroz)

Amor

Amor


Quando os vocábulos não bastam,


que dizer? Não dizer nada?


Dizer tudo de uma vez?


Deixar simplesmente que um abalo


sísmico tome conta de nós?






O que sobraria de um nada se eu


nada te dissesse e, que transpiraria


na sombra de um todo, se tudo te contasse?


Se dirigiste a robustez do meu olhar


em partes contíguas


acidentalmente separadas,






existem prescrições para o Amor?






sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Deixa o sol saber em seu corpo



Deixa o sol saber em seu corpo
deixa o sol saber em seu corpo
nos limites da pele
um carinho


atalho até sua boca outro beijo
sabe-se da vontade
um corte


anda-se nos astros por destino
o que é recusado
um desejo


então falar com a leveza da luz
com a leveza da alma
o amor

Clarice

Amor


AMOR


Abro um pouco o A,


beijo com vontade o M,


contorno bem o O,


e faço cócegas ao R...


assim mostro o que sinto!



Se te soletrar, direi:

A de Amor,


M de Muito amor,


O de Obviamente amor


R de Repito amor.




Se te desenhar será com:


um redondo Arco


feito à Mão livre


na mais linda Obra


que me sai sem Rascunho.




E pronto...

sais sempre tu,


sai sempre AMOR!



MJMS













Soneto do Amor

Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo

Este amor que é real e que contudo
Eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.


Autor: (Vinícius de Moraes)